Após 25 anos de profissão, entrar em uma escola despertou um sentimento
diferente em Maria* (nome fictício), 45 anos. Tremendo, ela suava, não
se sentia bem... Quase desmaiou. Sempre que entrava em uma sala de aula,
diz que sentia mal-estar, abalada e fragilizada.
O comportamento tinha motivo. Alguns dias antes, Maria havia sido
agredida por um aluno adolescente e sua mãe. Foram tapas e chutes. Houve
confusão e a professora foi empurrada. Caiu no chão e precisou ser
amparada por outros funcionários para conseguir se levantar.
— Minha vida virou um inferno do dia para noite. E eu tenho que
trabalhar, não vou poder abandonar 25 anos de carreia. Vou ter que
voltar.
Casos como esses, de agressão sofridas por professores, diretores e
funcionários de escolas do Estado de São Paulo dentro da instituição de
ensino, não são isolados. Entre outubro de 2013, início dos registros do
tipo no ROE (Registro de Ocorrências Escolares) — ferramenta que
consolida as informações a partir de dados fornecidos pelas mais de
5.000 escolas da rede estadual — e 2016, foram registrados 5.845 casos
de agressão física ou verbal nas escolas do Estado.
Os dados foram obtidos pelo R7 via Lei de Acesso à
Informação. Entre outubro e dezembro de 2013, foram 178 agressões. Em
2014 foram 1.883 casos. No ano seguinte, o número subiu para 1.962 e, em
2016, houve queda para 1.822. Levando em consideração os três anos
completos (2014, 2015 e 2016), foram 5.667 registros, o equivalente a
5,1 casos por dia.
A Secretaria Estadual de Educação de São Paulo informou, em nota, que,
"em caso de agressões a professores, medidas educativas e restaurativas
são trabalhadas com os alunos e os pais/responsáveis são chamados".
Também informou que, em 2016, houve uma redução de 7% no número
registros de ocorrência escolar em relação a 2015.
Maria foi mais uma vítima. A professora ficou com várias escoriações
pelo corpo e, desde o ocorrido, no início do ano, faz acompanhamento
psiquiátrico. Não toma mais remédio e retomou a rotina de mais de duas
décadas de profissão após 40 dias de afastamento.
— Procuro não lembrar, porque, se paro para pensar, não saio de casa. E
a escola é um lugar que eu gosto muito, então é melhor [enfrentar] do
que ficar em casa pensando porcaria.
O aluno que a agrediu foi transferido para outro colégio. Segundo ela,
antes da agressão, o jovem apresentava problemas de comportamento e a
mãe já havia sido chamada pela direção para conversar mais de uma vez.
Neste dia, a conversa terminou com as agressões dentro da escola.
E essa não é uma realidade restrita a São Paulo. Uma pesquisa
internacional feita pela OCDE (Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico), de 2014, revelou que 12,5% dos professores
ouvidos no Brasil se disseram vítimas de agressões de alunos ao menos
uma vez por semana. O levantamento ouviu mais de 100 mil professores e
diretores de escolas de 34 países e coloca o País no topo da lista de
violência escolar. Depois do Brasil, aparece a Estônia, com 11%, e a
Austrália com 9,7%. Há países como Coreia do Sul, Malásia e Romênia onde
o índice é zero.
São Paulo não é o único Estado do pais onde ocorrem agressões físicas e verbais contra os professores. Há registros de agressões de alunos contra professores nas escolas de quase todo o Brasil. É uma realidade generalizada. Nós professores que passamos quatro anos de de uma faculdade nos preparando para transmitir nossos conhecimentos, formar cidadãos e profissionais, humanizar pessoas e preparar estudantes para um vestibular e Enem, somos hostilizados, mal remunerados e não valorizados.
Agredir um professor, é agredir a Educação de forma violenta. Parabéns aos países que zeraram o índice de agressões a esses importantes profissionais.
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