sábado, 5 de novembro de 2016

            DIÁRIO DA SECA

            SINAIS DA NATUREZA REPASSADOS DE PAIS PARA FILHOS

            "A cor da esperança do camaleão vai embora, o sabiá geme de dor, se aquebranta e desaparece. Se outro pássaro canta, o coitado não responde; ele vai não sei pra onde, pois quando o inverno não vem, com o desgosto que tem, o pobrezinho se esconde". Patativa do Assaré converte em poesia o saber sertanejo sobre o retrato da seca, ano após ano, passando por gerações uma herança marcada pela resistência, até quando é possível resistir.
            Para o cearense de qualquer idade, os sinais da natureza como a observação da vegetação, a posição das estrelas, da lua, o comportamento e o canto dos pássaros, o vento, a cor do sol e das nuvens indica se haverá ano bom para chover ou não. A tradição popular e a fé nas palavras e previsões dos profetas da chuva são repassados de pais para filhos no Nordeste. Até porque, para o sertanejo, desvendar o tempo futuro é para quem tem dom, mais do que Ciência.
            O agricultor Francisco Chagas de Oliveira, de Chorozinho, aprendeu a a lida na roça com o pai e repassou o saber para os filhos, mas eles preferiram os estudos. Nessa seca, perdeu toda a plantação. Só sobraram mandiocas miúdas e ressecadas para fazer ração. "O homem da roça é desse jeito: só deixa quando morre".
            As previsões da Fumceme , dos profetas do Sertão e de alguns sertanejos que, com suas experiências, tentam acertar se haverá bom inverno no ano subsequente, às vezes nos decepcionam. As previsões enchem de esperança o homem do campo, que começa a orar, pedindo a Deus para que as previsões positivas realmente ocorram. Para essas pessoas, 2017 será um ano de muita chuva; para os meteorologistas, 2017 será mais um ano de seca, talvez, uma das piores.  Se eles estiverem certos, os açudes cearenses secarão, provocando um caos na vida do nosso povo. Cruz Credo. Vamos pedir a Deus com toda fé para que tenhamos um inverno abundante de chuvas.

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